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Difícil explicar e tentar entender como o futebol desperta sentimentos bizarros nas pessoas. Houve um tempo distante que o futebol me consumiu de raiva quando um erro do juiz me fez sentir algo muito ruim. Desde então busquei maneiras de abstrair as emoções durante as partidas. Encontrei na fotografia uma forma de levar o foco para um lugar além das emoções e a cada clique, a cada flash as emoções se dissipavam. Passei a avaliar a situação distante das emoções.

Comecei a perceber que esta emoção estranha não acontecia só comigo. Passei a olhar a torcida de maneira crítica e notava que mais de 90% das pessoas enlouqueciam assistindo uma partida de futebol por coisas pequenas. Bastava um passe errado, um empurrão, um gol, um olhar, uma cutucada que a bomba interior explode.

Então por que deixar seus filhos jogarem futebol?

Meus filhos são apaixonados por futebol e sempre apoiei, sempre estive por perto e valorizei cada momento. Não porque queria ver neles algo que nunca fui, não porque queria replicar neles alguma frustação da minha infância ou porque tenho neles a esperança de um futuro financeiro melhor através do futebol como vemos muito por aí

Vejo no futebol a oportunidade deles, quando jovens, passarem por situações que viverão por toda vida. Como lidar com as frustações, as derrotas e até aprender a ganhar. Viver um esporte na juventude é como fazer um simulado para viver a vida. As crianças aprendem a se comportar sob pressão, pensar numa solução rápida e a lidar com as emoções nas diversas esferas do relacionamentos humano.

É como ter a oportunidade de errar, analisar e tentar uma nova abordagem na próxima partida. Na esperança de fazer melhor, após dias de treinamento. Porque esse é soberano, só se aprende algo vivendo, isto é treinando. Esse é o maior propósito do futebol como esporte na vida das minhas crianças: Viver a cada partida, situações que a sociedade impõe de forma experimental, sempre na esperança de fazer o seu melhor.

Futebol leva ao paraíso e ao inferno ao mesmo tempo

Ora estamos festejando um gol e em segundos xingando o juiz. Num momento pedimos calma e em outro exigimos raça. É uma maluquice só e nossos filhos enfiados neste carrossel de emoções.

Já presenciei pai pedindo para o filho valorizar uma situação e até mesmo gritando: “Você é ruim” para o adversário fazendo um terror psicológico. E me refiro a crianças na categoria de base a partir dos 5, 6 anos até os 17 anos.

Quando vamos para os jogos profissionais vemos os pais/torcedores ora vibrando com gritos e cantorias de incentivo, mas basta o time perder para partir para o vandalismo, depredação, pancadaria, xingamentos e desrespeito com adversários e o próprio time do coração.

E o que estas crianças estão aprendendo através do comportamento dos adultos? Que o importante é apenas ganhar, não importa como. E quando perdem a mensagem que fica é você é um “merda”.

O futebol para muitas famílias é uma questão de honra, vida ou morte, vale tudo para conquistar a desejada vitória. Não ficando nenhum aprendizado, só o desejo impetuoso da vitória.

O ser humano é mal por natureza?

Assim como o filósofo inglês Hobbes, muitas pessoas acreditam que o homem é essencialmente mau. Hobbes acreditava que o homem não queria se tornar um ser social. E de um certo modo, quando vejo um pai ser estupido com um filho que perdeu um gol, quando escutamos os xingamentos e as selvagerias de um jogo do futebol, sempre me pergunto: Será que as pessoas são realmente malvadas por natureza?

Tudo isso pra dizer que…. Futebol desperta sentimentos estranhos, mas tem solução

Comecei esse texto dizendo que já experimentei esta emoção ruim no futebol e sei que várias pessoas também já esbravejaram ou já perderam a razão no futebol. Para mim foi uma experiência bem ruim e busquei formas de suprimi-la, mas ela não desaparece totalmente. Esse sentimento vive dentro de nós e precisamos nos manter no controle para fazer sempre a coisa certa no calor de uma torcida de futebol.

Esses dias fiquei muito chateada com as ações de um técnico dinossauro com pensamentos ultrapassados, sem nenhuma psicologia com os jovens “do tipo que gera expectativa e não as cumpre”, “autoritário que não aceita sugestões”, “que concede privilégios descabidos”, “que não conhece a equipe” e acabei descontando minha chateação com palavras ruins durante uma partida decisiva.

E ao contrário de alívio. Isso me trouxe mais chateação e arrependimento, pois minhas palavras atingiram um jogador que nada tinha a ver com o estilo arcaico dinossauro do técnico e as escolhas de sua equipe.

Sempre digo que é melhor não precisar de pedir desculpas, mas para não precisar pedir desculpas é necessário fazer a coisa certa. Caso erre, assuma a responsabilidade e vá com o coração aberto se desculpar.

Nosso papel como pais é ensinar nossos filhos a viver em sociedade, respeitar e ajudar o próximo independente do quão chateados estejamos. E hoje ao invés de ensinar o que tanto prego na minha casa, fui lembrada de como devo agir nesta situação.

E quem me fez lembrar disso: Meu Filho!

Aos 17 anos, meu filho foi escalado para jogar na Seleção de Futsal do Rio de Janeiro, mas ficou nos bastidores porque o técnico não conhecia seu seu potencial e estilo de jogo, concedendo exclusividade a outro jogador. Mesmo com todos os motivos para estar chateado esse jovem e futuro adulto já tinha aprendido a lição. Durante toda estadia no Brasileiro de Seleções Sub-17 deu o seu melhor como ser humano, incentivado sua equipe e fazendo seus colegas extraírem o melhor que existia dentro deles.

Só podemos mudar o sistema fazendo a coisa certa. E ele fez! Orgulho gigante de ser sua mãe e me desculpe por ter pedido a razão desta vez.

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